domingo, 10 de julho de 2011

Pequenas amarguras

Imaginem vcs uma jovem mãe de primeira viagem (não me imaginem por favor, eu disse uma jovem mãe), essa jovem tem lá seu lindo bebezinho, um lindo carrinho de bebê e mora num belo bairro, cheio de lojinhas, padarias, açougues, quitandas, pracinhas... um belo bairro de interior, que delícia, dá pra fazer tudo a pé, pensa ela.

E então, numa bela manhã de solzinho quente, ela resolve ir as compras com seu bebê em seu lindo carrinho de passeio, ambos sorridentes, para tudo e para todos. Ainda sem sair de seu prédio, descobre que tem que sair pela garagem, na entrada não há rampa, tudo bem, dá-se a volta e lá vão eles.Vira a direita e pensa em pegar uns pãezinhos na padaria, comprar uma revista e parar numa praça, o bebê vai tomar um solzinho enquanto mordisca um pãozinho e ela folheia sua revista.

Já na esquina, ela percebe que não dá mais pra seguir na calçada, quando não há burracos, há desníveis entre uma casa e outra, seriam necessários dois para descer ou subir o carrinho, resolve seguir pela rua, até porque já havia passado com a roda por cima de cocô de cachorro e não queria sujar calçadas alheias.

Na rua leva uma buzinada na orelha, o bebê chora e o motorista berra pra ela sair da rua, envergonhada segue até a padaria com o carrinho inclinado, metade na sarjeta, metade na rua. Na padaria, precisa de ajuda, não há rampa também lá. Suspira, e pensa na pracinha.

Pãozinho comprado e revista debaixo do braço, ela agora saí rumo a pracinha, é logo ali, só atravessar a avenida... só... Procurou uma faixa com sinal para que pudesse atravessar, isso a desviou uns 10 quarteirões, mas tudo bem, estava ali pra passear mesmo. Deu azar, e o sinal abriu com ela no meio da avenida, mais buzinada, ela corre e se espreme no canteiro entre as vias, fica lá, rezando pra dar tudo certo com o carrinho de esgueio. Sinal fecha, ela atravessa tranquilamente e ufa... chega a pracinha.

Agora é procurar um banco, uma sombrinha e relaxar, nem foi nada, com certeza valerá a pena. Banco quebrado, banco mijado, banco ocupado... o senhor que ocupa o banco percebe e se levanta, está "levemente" embriagado, a convida para dividir o banco com ele. Acuada, ela agradece e aperta o passo, o homem pragueja em nome de sei lá quem e volta a dormir.

A moça vê um táxi na rua, faz sinal, o motorista pára mas de cara feia, vai ter que descer do táxi pra ajudar com o carrinho. Assim seguem, direto pra casa. O menino come o pão no chão da sala vendo TV e ela lê sua revista no sofá, assim acba o passeio. Pena, dentro da sala não bate sol.

É possível sim que um dia a jovem mãe volte a tentar, é possível que tente por várias vezes, e que as vezes, consiga algum prazer. Mas é mais provável, que a jovem mãe envelheça a cada tentativa e que um dia não haja mais próxima vez.


A não mais jovem mãe então, uma mãe calejada, passa a colocar o menino no carro, segue até um shopping com uma praça de alimentação, barulhenta e fedida a fritura e mostra pra ele as luzes dos brinquedos dos flips. E na volta, depois de comprar tudo o que precisava num grande e frio hipermercado, se assusta, buzina e grita para uma jovem mãe:
-Sua louca!!! Saí com esse carrinho da rua!!!
E ainda brava, fala sozinha:
-Coitada, pensa que vai aonde?

2 comentários:

CrisYuri disse...

pô Alinem, assim vc não anima aquelas que pensam em ter filhotes....kkk

Dona Aline disse...

Uai, ter filhote é uma coisa, outra coisa é querer vencer as barreiras arquitetônicas piracicabanas, ou brasileiras, com um carrinho de bebê. Te aconselho a ter um filhote, mas não a querer desbravar o mundo de carrinho.
Beijo e saudade