terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O ovo nosso de cada dia

Imagino, num futuro não muito distante, crianças boquiabertas e enojadas ao descobrirem numa aula de biologia, de onde vem o ovo!!! Não aquele que as aves botam pra nascerem seus filhotes... O ovo que eles comem, aquele mesmo... o da embalagem tetra pak que fica nas prateleiras de qualquer mercado... um não tem nada a ver com o outro... nãããão... a semelhança está no nome apenas...
- Hã?!? - exclamará a maioria.
- Mas professora, ali não passam também outras coisas da galinha???? Que nojo!!! - Dirá a cocota da sala. - Arghhhhhhhhhhhhhh
- Mas professora, eu já visitei uma fábrica de ovos... e não vi nenhuma galinha lá.
- Eu já sabia faz tempo, e como mesmo assim - Dirá o valentão, agora, todos sabendo "da origem negra" do ovo, comê-lo, passa ser um ato de bravura, coisa de macho.
A explicação é longa, a credibilidade é pequena. E o ovo da galinha, não o da caixinha, passa de mão em mão (dos que tiverem coragem de pegá-lo, claro). Difícil deles acreditarem que de lá, além do bonitinho pintinho que eles já viram um dia na TV, sai também o omelete que sua mãe costuma servir no almoço. Arghhhh!!!! Será preciso um bom tempo para voltarem a comer o ovo sem pensar no assunto.
Chegarão em suas casas, e na mesa contarão tudo pra seus pais, tim-tim por tim-tim, exagerando, perguntando se sabiam disso, se é mesmo verdade... E seus pais rirão, e dirão que nos tempos de suas avós, a vida era bem mais difícil, e que os ovos vinham direto das galinhas para o supermecado, daquele jeito... ui!!!... e em casa, eram guardados na geladeira, daquele jeito, naquela casca... (arrepios de nojo)!!! Você não tinha opção, vinha clara e gema junto, na mesma embalagem!!! Nóóó... Naquela casca nojenta!!! Coitadas... elas tinham que quebrar a casca na quina da pia... (Arrepios e mais arrepios). - Ahhhhhhh - e suspirarão de pena, pensando na gente desse tempo tão bruto, e logo mudarão de assunto, pra não estragar o almoço.

Exageros à parte, porém, não acho difícil de acontecer. Aliás, vários alimentos hoje, já têm grande parte de sua identidade perdida, e não duvido que haja crianças por ai que se arrepiarão quando souberem que o tão gostoso leite com chocolate de todos os dias, vem de uma teta enorme que pasta por ai!!!
Sei muito bem das vantagens e benefícios dos produtos higienizados, rotulados, pasteurizados, empacotados, embalados, carimbados, datados e etc e tal... e também não escrevo para condenar os processos industriais ou a questão ambiental, nada disso. Só temo pela perda da beleza do simples, do natural, a beleza de como as coisas realmente são e acontecem.
Conheço a graça de se ter ovos no quintal, e prefiro que ela não diminua mais quanto tende a diminuir, mas acho que, não importando a forma como passaremos à ou preferimos, consumir um alimento, o fundamental é, nunca esquecer do que é, de onde vem e quanto realmente vale o que se come, afinal, um ovo é muito mais que um líquido na caixinha pronto pra você fazer deliciosas receitas e fritadas.
Há que se valorizar, agradecer e respeitar a cada ovo quebrado à galinha que o botou, à natureza que bolou aquela fantástica embalagem e principalmente, ao serzinho que poderia vir a ser um dia... aquele nosso delicioso omelete.

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