As gordinhas de Eliana Kertész numa praça em Salvador. Para saber mais sobre a artista e suas gordinhas, clique aqui na legenda. |
“O espelho é a nova forma de submissão feminina”, afirma a historiadora Mary Del Priore. Segundo ela, “no decorrer deste século, a brasileira se despiu. O nu na tevê, nas revistas e nas praias incentivou o corpo a se desvelar em público. A solução foi cobri-lo de creme, colágeno e silicone. O corpo se tornou fonte inesgotável de ansiedade e frustração. Diferentemente de nossas avós, não nos preocupamos mais em salvar nossas almas, mas em salvar nossos corpos da rejeição social. Nosso tormento não é o fogo do inferno, mas a balança e o espelho. Nos curvamos não aos pais, irmãos, maridos ou chefes, mas à mídia. Não vemos mulheres liberadas se submeterem a regimes drásticos para caber no tamanho 38? Não as vemos se desfigurar com as sucessivas cirurgias plásticas, se negando a envelhecer com serenidade? Se as mulheres orientais ficam trancadas em haréns, as ocidentais têm outra prisão: a imagem.”
Copiei esse pedaço de texto de uma postagem do blog da Rosana Jatobá, lá ela fala mais de plásticas e processos mais invasivos em busca da tal beleza, a postagem chama: Espelho, espelho meu! Existe alguém mais plastificada do que eu? e vale a pena ser lida, assim como tudo o que ela escreve no seu blog do G1, Sustentabilidade. Ela finaliza muito bem seu texto com a seguinte frase:
"Se antes as roupas nos aprisionavam, agora a ditadura da beleza nos prende na ilusão de máscaras e na justeza das próprias medidas. Se fomos capazes de rasgar espartilhos, queimar soutiens e libertar musas da escravidão da imagem, talvez seja hora de estilhaçar os espelhos."
A beleza e a felicidade andam lado a lado, e é muito bom quando se tem as duas, mas hoje o que se vê é uma distorção de ambas, felicidade é ser bela, e ser bela é ser igual a moça da capa da revista.
Não é preciso ser belo pra ser feliz, é preciso ser feliz e se sentir belo.
Se sentir belo é se aceitar dentro do seu corpo, da sua idade e da sua realidade. Se conhecer é fundamental, eu por exemplo, sei que nunca me sentiria bela e feliz de verdade, sendo magrinha "como se deve ser" e abrindo mão de prazeres gastronômicos, não, não, não, a felicidade pra mim, as vezes, é tão barata e fácil quanto um copo de garapa com pastel na feira.
É claro que deve haver moderação, no meu caso, o corpinho aqui já sofre com a idade e o metabolismo lento, uma dieta para o bem-estar se faz necessária. Já não posso levar meu corpo para onde quero e me empanturrar de tudo o que eu vejo na frente, hoje há consequências, muitas vezes, imediatas.
Quando estava amamentando, naturalmente, fiquei mais magra, e por isso as pessoas chegavam em mim me dando parabéns, falavam de como eu estava bonita, como eu estava bem, que era muito bom me ver bem daquele jeito. BEM PORQUE???? Só porque eu havia emagrecido quer dizer que estou bem?
Não, eu não estava mal, mas também não estava assim tãão bem a ponto de ganhar parabéns só de me olharem. Estava magra porque estava amamentando, porque estava cansada, porque ainda estava me habituando a um nenezinho com cólicas. Aquilo chegou a me irritar, poxa, eu via a canseira no meu rosto, e poucos perguntavam como eu estava realmente.
Bem, a fase da amamentação parou, os kilinhos voltaram e os parabéns foram embora. Estou aqui agora, nunca tão mais pesada na minha vida, em frente ao espelho... e continuo bonita!!! Olha que bom!!! Eu me gosto mesmo assim, não quero ser igual a moça da revista, e muito menos com a fulana que já tem 3 filhos e uma barriga da tanquinho... hihi!!! Eu te amo corpinho roliço!!! E desde que isso não nos faça mal, continuaremos assim, felizes e fofinhos.
-Espelhinho, não vou te quebrar, pois não sou sua escrava.
Eu sou sua amiga!!!